No
livro “A Queda” do jornalista Diogo Mainardi, onde ele escreve memórias de um
pai e de seu filho que nasceu em Veneza com paralisia cerebral, decorrente de
um erro médico, o autor diz que o maior talento dele é ir embora do Brasil e
que ninguém sabe ir embora do Brasil melhor do que ele. Não pude morar fora do
Brasil, mas tive a oportunidade de conhecer o Japão em 2006 e retornei de lá
com uma enorme inveja daquele povo e de como eles enfrentam suas dificuldades –
enorme população e perigo iminente de terremoto. As ruas de Tókio eram limpas,
o cidadão respeitava a faixa de segurança, a infraestrutura de transporte
funcionava com um emaranhado de linhas de metrô tornando o trânsito da capital
japonesa bastante aceitável. Retornando ao Brasil, tive um choque ao ver a
montanha de lixo que se acumulava nas ruas de São Paulo e a dificuldade de
trafegar no trajeto de Guarulhos até Congonhas.
Coloco
todas estas questões, pois o antigo Presidente Lula, aquele que achava que o
país começou no governo dele (lembram da frase “Nunca antes na história deste
páis”?) assumiu o compromisso de promover uma Copa do Mundo e os Jogos
Olímpicos em uma atitude de megalomania. O que se vê nos noticiários é o atraso
de obras, dificuldade de cumprir cronogramas, como a implementação da tecnologia
4G para os celulares, prometida para Copa e longe de funcionar de fato,
estradas, aeroportos e sistemas de transportes precários que farão das cidades
envolvidas com os eventos um caos maior do que se vive hoje em dias “normais”.
Ainda que a palavra da Presidenta e de seus assessores seja de otimismo, a
história recente mostra que o Brasil não é capaz de realizar um grande evento
de forma eficaz, deixando algum legado para a população. O que se vê no Rio de
Janeiro, que sediou os Jogos Pan-Americanos de 2007, é a prova viva. A
prefeitura está demolindo o ginásio do velódromo construído por R$ 14 milhões
para fazer um outro maior. As ruas do condomínio que abrigou a Vila
Pan-Americana estão cedendo, passando de dois metros o desnível da rua para a
entrada do edifício, que está toda protegida por tapumes. O parque aquático
Maria Lenk, que custou R$ 80 milhões, não servirá para 2016 e será construído
outro. O Maracanã, reformado para o Pan de 2007 ao custo de R$ 304 milhões está
sendo reconstruído para a Copa por mais de R$ 900 milhões. Por último, o
Engenhão foi interditado por tempo indeterminado, com a sua cobertura ameaçada
de cair por falha de execução do projeto.
O
que o Brasil realmente é capaz é de mostrar para o mundo como somos
incompetentes. Não conseguimos escoar nossa produção de grãos por falta de
portos adequados e estradas esburacadas. A educação de base fornecida pelo
governo é de um nível lamentável, com falta de escolas dignas e professores
preparados. Doentes empilhados em corredores de hospitais, mais parecendo cena
de guerra. Mas o governo da Presidenta consegue, incrivelmente, manter uma boa
aceitação popular, pois o povo recebe “ajuda social” de todos os tipos, empurrãozinho
para o jovem oriundo do ensino público entrar em curso superior através de
cotas e “vistas grossas” na avaliação do ENEM e o discurso de que com o
dinheiro do pré-sal finalmente teremos recursos para a educação ou de um PAC
milagroso tirado da cartola da Presidenta. Com o estado inchado e gastos do
governo nas alturas seremos capaz de virar a Grécia ou a Venezuela de amanhã,
cujo governo usava o dinheiro do petróleo para “comprar” os eleitores. Periga
sermos capaz de fazer a Petrobras se tornas a PDVSA (estatal de petróleo
sucateata da Venezuela). Do que o Brasil é capaz?