Já
escrevi sobre os motivos do atraso brasileiro e mais uma vez vou tentar
elucidar com fatos e dados:
EDUCAÇÃO:
O
Brasil investe muito e mal em
educação. Esquece por completo a educação de base, tenta
remediar com uma série de cotas para preenchimento de vagas no nível superior e
torra uma imensa fortuna em universidades federais que dão pouco retorno a
sociedade. Recentemente, a USP, principal centro de pesquisa do país, saiu do
ranking global das 200 melhores instituições de ensino publicado pela revista
britânica Times Higher Education, depois
de ocupar o 158° lugar em 2012. A
USP caiu no ranking pela ausência de um projeto internacional e o baixo nível
de citações em publicações científicas. O professor de economia nos EUA
Alexandre Scheinkman questiona sobre qual seria a inspiração da USP. Assim como
a USP nenhuma das universidade federais aparecem na lista entra as 400 da
revista. A China tenta imitar o modelo americano e já possui duas
representantes na lista e o segredo foi direcionar verbas de pesquisas em
parceria com empresas privadas e com financiamento público. No Brasil, as
pesquisas acadêmicas se afastam das necessidades do setor privado. É como se o
trabalho para o setor privado fosse uma traição aos valores do ensino superior.
De nada adianta aumentar o número de instituições, devemos mudar de estratégia.
Do MIT nasceram mais de 25.000 empresas nas duas últimas décadas. Na Unicamp,
referência de apoio ao empreendedorismo no Brasil, foram pouco mais de 300 no
mesmo período.
SISTEMA TRIBUTÁRIO:
No
Brasil as empresas participantes do SIMPLES têm que fazer mágica para crescer
somente até o limite que as mantenha pagando impostos de forma simplificada.
Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, 62% das empresas que
saem do SIMPLES ficam inadimplentes em até dois anos, pois não suportam lidar
com até 100.000 combinações de regras tributárias. As grandes empresas gastam
por ano 2.600 horas para lidar com a burocracia tributária – a média da América
Ltina é de 367 horas e da OCDE, o clube dos países ricos é 176. As empresas
vêem sua carga tributária aumentar em até 30% quando saem do SIMPLES. O resumo disto tudo é que as grandes empresas
disponibilizam um grande contingente de funcionários em atividades que não
agregam valor e tiram a competitividade das empresas, pagando tributos e
decifrando regras que mudam diariamente e as micro empresas fazem das tripas
coração para não crescer e mudar seu enquadramento. Devemos reformar o sistema
tributário e diminuir a carga para tornar o país mais competitivo.
AUMENTO DA COCORRÊNCIA:
Segundo
a Fundação Bertesmann, uma das mais respeitadas da Alemanha, estima-se que uma
área de livre comércio entre EUA e UE aumentaria, a longo prazo, a renda per
capita americana em 13% e a européia em 5%. A Alemanha geraria 160.000
empregos. Na contramão desta realidade está o Brasil, que desde 2009 elevou
alíquotas de importação 31 vezes (duas vezes mais do foi feito por EUA,China e
por todos os países da União Européia juntos). Por aqui, desde o governo
Presidente Lula, estreitamos laços com países africanos e insistimos com o
falido Mercosul, que não passa de uma confraria de presidentes que discursam
contra os EUA e buscam forma de fortalecer a “Revolução Bolivariana”. Para o
economista Marcelo Lisboa, vice-presidente da escola de negócios Insper, o
Brasil deveria ter uma agenda de crescimento que incluísse o fim de distorções
e privilégios concedidos a algumas empresas e setores.
INFRAESTRUTURA:
Como um
paquiderme, o Brasil vai a passos lentos quando se trata de investimentos em
infraestrutra. Para ficar só na área portuária, um estudo do Instituto
Brasileiro de Pesquisas Tributária (IBPT) revela que os custos portuários
tiveram crescimento (em dólar) de 27,26% no período de 2009 a 2012 no Brasil.
Os custos portuários podem ser divididos em diretos ou indiretos. Entre os
valores que recaem diretamente nos preços dos custos marítimos, estão as
utilizações dos equipamentos e instalações portuárias terrestres ou marítimas.
Os custos indiretos compreendem aqueles relacionados à contratação dos serviços
de praticagem, rebocadores, agências marítimas, atracação e desatracação,
faróis, vigias, transporte de tripulação, explica Gilberto Luiz do Amaral,
presidente do Conselho Superior e coordenador de estudos do IBPT.
Clima, oferta
e demanda, oscilações de mercado. A maioria desses fatores que influenciam na
renda do produtor e no preço das commodities agrícolas não podem ser
controlados por política agrícola e investimentos dos agricultores. Já
quando se fala em logística e infraestrutura de transportes e armazenagem, a
situação é diferente. Se há algo que pesa nos custos de produção e impede o
agronegócio brasileiro de ser ainda mais competitivo, são os problemas
enfrentados por quem produz na hora de escoar a safra.
BUROCRACIA:
Estudo
do Banco Mundial analisa a dificuldade do setor privado em lidar com a
burocracia. Para abrir uma empresa necessitamos de 119 dias. Despachar um
contêiner em um porto leva 13 dias – nos países da Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média é de 10 dias. Outra pesquisa da
Fiesp com o seu Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) coloca
o Brasil na 156° posição de um ranking de 185 países no item burocracia. O
Decomtec aponta que o Brasil gasta 2.600 horas por ano para uma empresa pagar
tributos no Brasil, enquanto na média dos
países da OCDE são necessárias 176 horas por ano. Outro estudo, do Fórum
Econômico Mundial, mostra que o Brasil ocupa as últimas posições quando são analisados
itens como a regulação do governo.
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA:
No
Brasil, os custos adicionais do trabalho são da ordem de 100%. Ao assinar a
carteira de um funcionário, uma empresa arca com encargos iguais ao salário
pago sem que este valor retorne ao trabalhador. As inúmeras obrigações são mais
um peso que sufoca a competitividade dos produtos nacionais. Precisamos tornar
a criação de empregos e a produção mais barata. Necessitamos de uma
racionalidade para acabar com a profusão de encargos, benefícios diretos e
indiretos, contribuições adicionais e burocracia para tornar nossas empresas
mais competitivas. O custo do trabalhador chega a ser mais que o dobro do
verificado em outros países emergentes. Na indústria de transformação, os
encargos trabalhistas correspondem a um terço das despesas com mão de obra.
Isso tem reflexos diretos na competitividade dos nossos produtos - as despesas
ligadas ao trabalho significam de 20% a 50% do custo final dos manufaturados
brasileiros. O Brasil é o País com os
encargos trabalhistas mais elevados em um grupo de 25 nações analisadas pela
rede mundial de auditoria e contabilidade UHY. Nesse grupo, que inclui o G7 -
grupo dos sete países mais industrializados - e os Brics - principais economias
emergentes -, o Brasil desponta como líder mundial ao pagar, em média, 57,56%
do valor bruto do salário em tributos. A média global é de 22,52%
PAU QUE NASCE TORTO, MORRE TORTO
Acima
citei as mais diversas causas, que todo mundo está cansado de saber, que fazem
com que o Brasil não tenha um crescimento contínuo e sustentável em sua longa
história. Poderia dizer que os motivos do eterno atraso brasileiro foram culpa
da colonização portuguesa e da religião católica. Os portugueses vieram para cá
extrair nossa riqueza natural (talvez por isso até hoje somos fortes na
exportação de commodities) e trouxeram o sistema cartorial com excessiva
burocracia, que só traz mais corrupção (quanto mais obstáculos, mais
“facilitadores” aparecem no caminho prometendo resolver este ou aquele problema
em troca de uma propina). Nos EUA, outro país de tamanho continental como o
Brasil, os colonizadores foram para lá em busca de trabalho e oportunidade –
este ponto é crucial para entender a diferença de estágio entre os dois países.
Outro fator fica bem claro no livro do historiador americano David Landres,
autor do best-seller “A Riqueza e a Pobreza das Nações”. A riqueza de uma nação
está alicerçada em uma cultura econômica bem-sucedida, fruto do trabalho
produtivo, em que o mérito suplantava o status, e a riqueza se construía
‘fazendo’, e não ‘tomando’. Outro ponto que toca o autor é a respeito da
diferença fundamental entre católicos e protestantes ao analisar a forma como
eles entendem os jogos de azar. Os católicos dizem que, se você apostar, pode
perder dinheiro. Os protestantes dizem que você pode ganhar e obter riquezas
imerecidas. Ganhar, não tirar dinheiro de alguém.