sábado, 17 de janeiro de 2015

Base da pirâmide, o alvo de populistas



            Sou formado em administração de empresas e se para alguma coisa serviu meu curso foi para entender como funciona a mentalidade das pessoas e das organizações compostas por elas. Lembro bem da Teoria Clássica de Taylor e Fayol e seus os primeiros estudos sobre a teoria da administração. Fayol relacionou 14 princípios de acordo com seus pensamentos. São estes: divisão do trabalho, autoridade e responsabilidade, unidade de comando, unidade de direção, disciplina, prevalência dos interesses gerais, remuneração, centralização, hierarquia, ordem, equidade, estabilidade dos funcionários, iniciativa e espírito de corpo. Também lembro do estudo de “Tempos e Movimentos” na tentativa de medir em quanto tempo determinada atividade era realizada e tentar otimizá-la através da readequação de processos. Também dentro de estudiosos de escolas de administração, encontramos a experiência de Hawthorne realizada em 1927, pelo Conselho Nacional de Pesquisas dos Estados Unidos (National Research Council), em uma fábrica da Western Electric Company, situada em Chicago, no bairro de Hawthorne e sua finalidade era determinar a relação entre a intensidade da iluminação e a eficiência dos operários medida através da produção. A experiência foi coordenada por Elton Mayo e colaboradores, e estendeu-se à fadiga, acidentes no trabalho, rotatividade do pessoal (turnover) e ao efeito das condições de trabalho sobre a produtividade do pessoal. Nessa fábrica havia um grande departamento onde moças montavam relés de telefone. A tese era que aumentando a luminosidade, a produtividade também aumentaria. A Western Electric fabrica equipamentos e componentes telefônicos. Na época, valorizava o bem-estar dos operários, mantendo salários satisfatórios e boas condições de trabalho. A empresa não estava interessada em aumentar a produção, mas em conhecer melhor seus empregados. Para analisar o efeito da iluminação sobre o rendimento dos operários, foram escolhidos dois grupos que faziam o mesmo trabalho e em condições idênticas: um grupo de observação trabalhava sobre intensidade de luz variável, enquanto o grupo de controle tinha intensidade constante. Curiosamente, no grupo experimental e no grupo de controle, registrou-se um aumento na produtividade. Os pesquisadores não conseguiram provar a existência de qualquer relação simples entre a intensidade de iluminação e o ritmo de produção. Reduziu-se a iluminação na sala experimental. Esperava-se uma queda na produção, mas o resultado foi o oposto, a produção na verdade aumentou. Comprovou-se a preponderância do fator psicológico sobre o fator fisiológico: a eficiência dos operários é afetada por condições psicológicas. Reconhecendo que o fator psicológico influenciava no resultado da pesquisa, os pesquisadores pretenderam eliminá-lo da experiência, por considerá-lo inoportuno, razão pela qual a experiência prolongou-se até 1932, quando foi suspensa em razão da crise econômica de 1929. A conclusão (que ficou conhecida como experiência de Hawthorne) é que o aumento da produtividade não estava relacionado com a intensidade da luz, mas sim com a atenção que estava sendo dada às pessoas. Outro tema desenvolvido durante o curso de administração foi a respeito da Pirâmide de Maslow (Abraham Maslow foi um psicólogo de grande destaque por causa de seu estudo relacionado às necessidades humanas). Segundo ele, o homem é motivado segundo suas necessidades que se manifestam em graus de importância onde as fisiológicas são as necessidades iniciais e as de realização pessoal são as necessidades finais. Cada necessidade humana influencia na motivação e na realização do indivíduo que o faz prosseguir para outras necessidades que marcam uma pirâmide hierárquica.
            Fiz esta introdução com estes conhecimentos para tentar associar a base da pirâmide de Maslow com a pró-atividade ou a falta dela (pró-atividade é definida como uma ação antecipada, refere-se à tomada de decisões com agilidade e inteligência). Na prática, o profissional pró-ativo enquadra-se no perfil dos que tomam a iniciativa, seja na realização de novos projetos ou na busca por soluções eficazes na empresa, este tipo de profissional está sempre atento, ele não espera, faz acontecer; para isso se comunica, tem liderança, motivação, planejamento e delega o que é possível. Ao meu ver, um sujeito pró-ativo é fruto do meio e da educação adquirida de berço e na escola e através deste arcabouço de conhecimento ele vai em busca de seus objetivos, desde profissionais até pessoais, como viajar ou adquirir mais conhecimento. Contudo, quem está na base da pirâmide, buscando satisfazer tão somente suas necessidades fisiológicas, busca um emprego onde esperam tão somente receber ordens e cumpri-las até a hora de encerrar o expediente. Seus objetivos só vão se expandir a medida em que tiver mais nível de conhecimento, tanto de estudo quanto de vivência e relacionamento interpessoal, fazendo ter um escopo maior que vai além de fatores meramente fisiológicos.
            Reparem tudo que foi dito acima e acompanhem mais uma vez minha linha de raciocínio: quanto menor o estudo, menos pró-ativo, menos ambicioso e menos contestador o ser humano é. Está ai um “rebanho” imenso para ser arrematado por governantes populistas que se perpetuam no poder através de suas políticas populistas (Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, etc.), sem a mínima necessidade de oferecer um nível de educação que faça estas pessoas crescerem ou almejarem novos objetivos. Alguém acredita que o novo lema do governo “Brasil, pátria educadora” vai ser aprofundado? Claro que não, pois o populismo necessita de gente que não questione e viva na base da pirâmide. Quem consegue avançar na pirâmide ou vive de forma desconfortável, no sentido em que tem consciência do que está acontecendo, mas não tem poder de mudança, ou simplesmente busca em outros países atingir seu grau máximo de felicidade e prosperidade.


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Cachorros e chargistas.




            Ainda chocado pela morte dos chargistas na França por dois radicais islâmicos, voltava de viagem com minha esposa e filho e, enquanto dirigia meu carro, a Fernanda, minha mulher, mostrou um post do Facebook com a notícia de que uma organização humanitária tinha salvado 23 cachorros que seriam sacrificados para virar comida na Coréia do Sul - a Sociedade Humanitária Internacional (HSI, na sigla em inglês), com sede em Washington, localizou os cachorros em uma fazenda de Ilsan, que fica perto de Seul, onde eles estavam sendo criados especificamente para o consumo humano e os resgatou levando-os para uma região próximo a Washington, nos EUA. Como amante de cachorro fiquei feliz. Praticamente eu sou carnívoro, mas não como nenhum animal “bonitinho”. Contudo, argumentei que comer cachorro faz parte da cultura coreana e que um indiano deve ficar horrorizado nos vendo em uma churrascaria saboreando uma deliciosa picanha de carne de gado (não esperem que eu vire vegetariano ou vegano). Tenho um primo que em uma viagem a Índia quase foi linchado quando por pouco não atropelou uma vaca.
            Semana passada li que o movimentos neonazistas, manifestações anti-islã e a islamofobia aumenta e recrudesce na Alemanha – e acredito que por toda Europa e mundo ocidental. Confesso que não conhecia o jornal satírico Charlie Hebbo e tampouco os chargistas mortos (Charb, de 47 anos, Cabu, 76 anos ou Wolinski, 80 anos) pelos franco-argelinos. Meu conhecimento de publicação francesa era de algumas manchetes do jornal Le Monde e dos quadrinhos do Asterix e Obelix, criados por Uderzo e Goscinny. Ouvindo o rádio nesta mesma viagem, um jornalista disse que o jornal atacado pelos terroristas costuma pegar forte com a direita, esquerda, católicos judeus e islâmicos com charges pesadas e de baixo nível. Em uma democracia, com um estado de direito forte e um judiciário atuante, o ofendido tem todo o direito de entrar com uma ação de reparação por perdas e danos morais. Mas onde tem este conceito de democracia em países onde o estado tem o Alcorão como sua “carta constitucional”?
            Aprendi nas minhas aulas de física que “para toda ação existe uma reação com força igual ao contrário” e me parece serem estes os fenômenos que estamos vendo pelo mundo. Os islâmicos ofendidos reagem de forma brutal, sobretudo os radicais, mesmo que tenham nascido no território francês, como foi o caso. Por outro lado, esta ação terrorista de uma minoria cega e doente, faz crescer outros movimentos anti-islâmicos, como acontece pela Alemanha. O que fazer? A França é um país que sempre recebeu imigrantes de diversas regiões por ela colonizada e a eles deu todas condições para viverem em paz. Por outro lado, com a falta de emprego e oportunidade, a juventude européia vê neles uma séria ameaça para seu futuro. Juntando com o extremismo religioso, prevejo sérios embates entre estes movimentos e os muçulmanos que por lá querem viver em paz. Temos que aceitar as diferenças, desde aqueles povos que comem carne de cachorro, aos que cultuam a vaca ou aos que adoram o churrasco.