Ainda chocado pela morte dos
chargistas na França por dois radicais islâmicos, voltava de viagem com minha
esposa e filho e, enquanto dirigia meu carro, a Fernanda, minha mulher, mostrou
um post do Facebook com a notícia de que uma organização
humanitária tinha salvado 23 cachorros que seriam sacrificados para virar
comida na Coréia do Sul - a Sociedade Humanitária Internacional (HSI,
na sigla em inglês), com sede em Washington, localizou os cachorros em uma
fazenda de Ilsan, que fica perto de Seul, onde eles estavam sendo criados
especificamente para o consumo humano e os resgatou levando-os para uma região
próximo a Washington, nos EUA. Como amante de cachorro fiquei feliz.
Praticamente eu sou carnívoro, mas não como nenhum animal “bonitinho”. Contudo,
argumentei que comer cachorro faz parte da cultura coreana e que um indiano
deve ficar horrorizado nos vendo em uma churrascaria saboreando uma deliciosa
picanha de carne de gado (não esperem que eu vire vegetariano ou vegano). Tenho
um primo que em uma viagem a Índia quase foi linchado quando por pouco não
atropelou uma vaca.
Semana
passada li que o movimentos neonazistas, manifestações anti-islã e a islamofobia
aumenta e recrudesce na Alemanha – e acredito que por toda Europa e mundo
ocidental. Confesso que não conhecia o jornal satírico Charlie Hebbo e tampouco os chargistas mortos (Charb, de 47 anos, Cabu, 76 anos ou
Wolinski, 80 anos) pelos franco-argelinos. Meu conhecimento de publicação
francesa era de algumas manchetes do jornal Le Monde e dos quadrinhos
do Asterix e Obelix, criados por Uderzo e Goscinny. Ouvindo o
rádio nesta mesma viagem, um jornalista disse que o jornal atacado pelos
terroristas costuma pegar forte com a direita, esquerda, católicos judeus e
islâmicos com charges pesadas e de baixo nível. Em uma democracia, com um
estado de direito forte e um judiciário atuante, o ofendido tem todo o direito
de entrar com uma ação de reparação por perdas e danos morais. Mas onde tem
este conceito de democracia em países onde o estado tem o Alcorão como sua
“carta constitucional”?
Aprendi
nas minhas aulas de física que “para
toda ação existe uma reação com força igual ao contrário” e me parece serem estes os fenômenos que
estamos vendo pelo mundo. Os islâmicos ofendidos reagem de forma brutal,
sobretudo os radicais, mesmo que tenham nascido no território francês, como foi
o caso. Por outro lado, esta ação terrorista de uma minoria cega e doente, faz
crescer outros movimentos anti-islâmicos, como acontece pela Alemanha. O que fazer?
A França é um país que sempre recebeu imigrantes de diversas regiões por ela
colonizada e a eles deu todas condições para viverem em paz. Por outro lado,
com a falta de emprego e oportunidade, a juventude européia vê neles uma séria
ameaça para seu futuro. Juntando com o extremismo religioso, prevejo sérios
embates entre estes movimentos e os muçulmanos que por lá querem viver em paz.
Temos que aceitar as diferenças, desde aqueles povos que comem carne de
cachorro, aos que cultuam a vaca ou aos que adoram o churrasco.
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