quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Cachorros e chargistas.




            Ainda chocado pela morte dos chargistas na França por dois radicais islâmicos, voltava de viagem com minha esposa e filho e, enquanto dirigia meu carro, a Fernanda, minha mulher, mostrou um post do Facebook com a notícia de que uma organização humanitária tinha salvado 23 cachorros que seriam sacrificados para virar comida na Coréia do Sul - a Sociedade Humanitária Internacional (HSI, na sigla em inglês), com sede em Washington, localizou os cachorros em uma fazenda de Ilsan, que fica perto de Seul, onde eles estavam sendo criados especificamente para o consumo humano e os resgatou levando-os para uma região próximo a Washington, nos EUA. Como amante de cachorro fiquei feliz. Praticamente eu sou carnívoro, mas não como nenhum animal “bonitinho”. Contudo, argumentei que comer cachorro faz parte da cultura coreana e que um indiano deve ficar horrorizado nos vendo em uma churrascaria saboreando uma deliciosa picanha de carne de gado (não esperem que eu vire vegetariano ou vegano). Tenho um primo que em uma viagem a Índia quase foi linchado quando por pouco não atropelou uma vaca.
            Semana passada li que o movimentos neonazistas, manifestações anti-islã e a islamofobia aumenta e recrudesce na Alemanha – e acredito que por toda Europa e mundo ocidental. Confesso que não conhecia o jornal satírico Charlie Hebbo e tampouco os chargistas mortos (Charb, de 47 anos, Cabu, 76 anos ou Wolinski, 80 anos) pelos franco-argelinos. Meu conhecimento de publicação francesa era de algumas manchetes do jornal Le Monde e dos quadrinhos do Asterix e Obelix, criados por Uderzo e Goscinny. Ouvindo o rádio nesta mesma viagem, um jornalista disse que o jornal atacado pelos terroristas costuma pegar forte com a direita, esquerda, católicos judeus e islâmicos com charges pesadas e de baixo nível. Em uma democracia, com um estado de direito forte e um judiciário atuante, o ofendido tem todo o direito de entrar com uma ação de reparação por perdas e danos morais. Mas onde tem este conceito de democracia em países onde o estado tem o Alcorão como sua “carta constitucional”?
            Aprendi nas minhas aulas de física que “para toda ação existe uma reação com força igual ao contrário” e me parece serem estes os fenômenos que estamos vendo pelo mundo. Os islâmicos ofendidos reagem de forma brutal, sobretudo os radicais, mesmo que tenham nascido no território francês, como foi o caso. Por outro lado, esta ação terrorista de uma minoria cega e doente, faz crescer outros movimentos anti-islâmicos, como acontece pela Alemanha. O que fazer? A França é um país que sempre recebeu imigrantes de diversas regiões por ela colonizada e a eles deu todas condições para viverem em paz. Por outro lado, com a falta de emprego e oportunidade, a juventude européia vê neles uma séria ameaça para seu futuro. Juntando com o extremismo religioso, prevejo sérios embates entre estes movimentos e os muçulmanos que por lá querem viver em paz. Temos que aceitar as diferenças, desde aqueles povos que comem carne de cachorro, aos que cultuam a vaca ou aos que adoram o churrasco.   
 

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